Qual é a tarefa do sacerdote? Construir pontes.

Qual é a tarefa do sacerdote? Construir pontes.

Hoje como família de Schoenstatt internacional celebramos os 113 anos da ordenação sacerdotal de nosso Fundador, Pe. José Kentenich.

Em 08 de julho de 1910, “recebeu a ordenação sacerdotal das mãos de Dom Henrique Vieter, de Camarões, na capela da Casa Missionária dos Palotinos em Limburgo, juntamente com outros sete candidatos. Celebrou sua primeira missa na mesma capela, em 10 de julho, assistido pelo seu Provincial, Padre Miguel Kolb. A homilia esteve a cargo do Padre Carlos Sehr. O crucifixo de madeira que sua mãe lhe ofereceu na ocasião está conservado da Casa Padre Kentenich no Monte Schoenstatt, assim como a lembrança de ordenação com os dizeres, por ele escolhidos: Concede, ó Deus, que os espíritos se unam na verdade e os corações no amor.” Mais tarde, celebrou ainda uma primeira missa solene na paróquia de Gymnich, sua cidade natal.”

Pe. José Kentenich nos ensina que a vocação sacerdotal é um chamado de Deus, porque todo sacerdote é chamado por Deus, consagrado a Deus, enviado por Deus. Em nosso tempo o anseio profundo do coração do homem é “encontrar no sacerdote uma testemunha credível, ou seja, um “homem de Deus“ só pode ter resposta se este viver de uma profunda consciência de vocação e missão.”

TIRADO DO MEIO DOS HOMENS, CONSTITUÍDO EM FAVOR DOS HOMENS

“Vamos à escola do apóstolo Paulo, como já fizemos tantas vezes e, de alguma forma, fazemos continuamente. Procuremos elaborar interiormente, em profundidade, o que ele tem a nos dizer sobre a missão do sacerdote católico em geral; procuremos, sobretudo, aplicá-lo ao tempo atual, à época em que vivemos: uma época dominada pela confusão, uma época sem paz, uma época em fuga de Deus.

Em seu estilo clássico, ele resume tudo o que se pode dizer sobre a missão do sacerdote numa única e grande frase. Vou citá-la em latim para depois traduzir livremente. Omnis pontifex ex hominibus assumptus pro hominibus constituitur in iis, quae sunt ad deum[1]2. Traduzido livremente, quer dizer: o sacerdote é tirado do meio dos homens. Não é tirado do meio dos anjos, portanto não deve necessariamente ser um anjo. E tirado do meio dos homens, não do meio de santos canonizados ou canonizáveis. Tirado do meio dos homens! Para que fim? Para educar as pessoas, não apenas uma ou outra, mas todas as pessoas sem exceção, a compreenderem mais profundamente, a assumirem e viverem concretamente seu relacionamento com o Deus vivo.

Em outras palavras: mover todas as pessoas sem exceção – não apenas um ou outro católico. Para falar com as palavras de Jesus, mover todos a amar a Deus de todo o coração, com toda a sua afetividade e com todas as suas forças[2]. Talvez nem imaginemos o pleno conteúdo de cada uma destas palavras. Creio que deveríamos deter- nos em cada uma delas e ponderá-las.

Escutamos, em primeiro lugar, a palavra sacerdote. Ela refere-se ao sacerdote em geral mas queremos aplicá-la igualmente a este sacerdote, que vemos subir pela primeira vez ao altar. É singular que Paulo traduza aqui a palavra sacerdote pela expressão fora do comum: pontifex. Que significa pontifex! O termo expressa, já por si, a característica da missão sacerdotal. O pontifex é construtor de pontes.

Qual é a tarefa do sacerdote? Construir pontes. Quais são as duas margens que deve unir com essas pontes? O Deus vivo e as pessoas humanas. A tarefa do sacerdote consiste em estabelecer uma relação indissolúvel, íntima, amorosa e permanente entre Deus e os homens. […] Chama o sacerdote de mediador entre Deus e os homens. Sabemos, pelo menos teoricamente, o que significa ser mediador entre Deus e os homens. O sacerdote situa-se entre o Deus eterno e a humanidade.

Que deve fazer? Levar às pessoas a sabedoria de Deus, a verdade do Deus vivo. E ainda? Levar às pessoas as misericórdias de Deus, os mistérios do Deus vivo simbolicamente contidos nos sacramentos. Por outro lado, deve levar a Deus os desejos das pessoas, as suas necessidades, os seus pecados, as suas alegrias, enfim, tudo o que lhes diz respeito […]. O sacerdote merece em verdade o título de mediador porque a ordenação sacerdotal o inseriu na mediação, no caráter do Eterno e Sumo Sacerdote Jesus Cristo. O cristianismo conhece um único sacerdote[3], um único mediador[4] e o sacerdote é inserido no ser e na função deste único mediador. Quando prega, o sacerdote ordenado empresta sua língua a Cristo. É Cristo que fala através dele. Quando administra os sacramentos ou realiza a consagração, o sacerdote ordenado empresta sua boca, suas mãos ao Eterno e Sumo Sacerdote.

Neste sentido, escutamos da boca de Jesus as palavras fortes: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que vosso fruto permaneça.[5] ” E ainda: “Como o Pai me enviou também eu vos envio”[6]. Em última análise, a missão sacerdotal remonta a Deus Pai, em Cristo e por Cristo. O sacerdote é inserido na corrente de sua missão; deve continuar até o final dos tempos a missão de Jesus.”

Por: Ir Gislaine Lourenço

(Textos do livro: Chamado por Deus, consagrado a Deus, enviado por Deus. Textos escolhidos do Padre José Kentenich sobre o sacerdócio. Páginas 11; 36-40.)

[1] Hebr 5,1: Porquanto todo sumo sacerdote, tirado do meio dos homens é constituído em favor dos homens em suas relações com Deus.

[2]  Cf. Mc 12,30 – [3] Cf. Heber 7,22-24 – [4]  Cf. Tim 2,5 – [5]17 Jo 15,16 – [6] Jo 20,21